quarta-feira, 29 de abril de 2015

Meditações acerca do psiquismo

Meu templo é Eu&Eu,
nesse templo, como que quase sempre
de maneira sutil o eu entra sem pedir licença

A que entidade psíquica se pode atribuir o desejo autofecundo ?
Esse desejo mobilizado pela falta, o buraco do Real na cerne da psique
Bordeado pelo objeto a, saravá Lacan, desloca-se de significante em significante,
mobiliza o sujeito dividido que agora traduz em símbolos seus desejos.

Porém o Sujeito fala, e no estranhamento entre Sujeito Integral
-corpo, sentimento, movimentos, maneiras, tiques, sonhos,
reações exageradas, esquecimentos, lembranças excessivas, etc-
e sua parcela componente chamada de 'eu', vemos a completude.

Mesmo em tempos em que o 'eu' se degladia contra o Sujeito integral
é a própria situação de conflito o equilíbrio, como na magia da dialetização,
Cuja síntese resultará em um novo Todo. O Sujeito Integral é o Self,
no xamanismo meu humilde orientador nomeara de Eu Maior, Eu Ideal.

Belíssima situação de equilíbrio e completude se assume quando o Eu Ideal entra em cena.
Dormem Intelecto e Eu ? A Integralidade é simplesmente o perfeito equilíbrio dinâmico,
Intelecto e Eu, com suas particularidades <<intelecção e individuação, importante posto que somos células unitárias>> e sua demanda originada do Real.

Essa demanda que sempre nos chega
E até quando aparenta não ter chegado é a demanda acontecendo.
A dor de perder algo, alguém, é a demanda acontecendo,
o perceber posteriormente que a dor da posse é apego, é a demanda.
O Dharma está no Real, e nos permeia independente de como apreendemos isso,
de que nome damos para nossas demandas. O Dharma é tudo que nos chega
em uma posição em que somos Sujeito, que demandam diretamente e indiretamente nossas ações.

O Sujeito Integral, intuitiva e racionalmente, sombraeluz- mente,
transcendido o simbólico, experiencia a totalidade do Real.
O simbólico é o registro de tudo que é expressão, letra, comunicação,
lógica, posto que é o registro onde está inscrito as cisões, que possibilitam a definição.
Apenas pela ausência se define a presença, apenas pelo desprazer nomeia-se desprazer.
Além da letra, além da mente, mas somente a mente letrada, refém da linguagem formal.
A mente imagética, permanece traduzindo o real, e posteriormente
É possível apreender esse Real experienciado imageticamente em um discurso simbólico
seja ele a mera verbalização, o contar, a vivência mnêmica,
artístico-poético, cênico, pictórico, musical, a escrita de prosa anacrônica ou linear.

Os trabalhos espirituais de desconstrução de couraças
são a tradução em imagens oriundas das memórias do indíduo.
O que se traduz nessas imagens ? O chegar à luz da consciência,
o processo dialético da aceitação do que antes se reprimia,
seja ele um problema de autoimagem do 'eu', realização quanto a uma decisão,
resolução de um grande trauma familiar, ou infinitos.

A desconstrução de uma ideia problemática, que disponibiliza respostas negativas
que põe o indivíduo em constante estado de defesa, demanda muito, além do mais,
a grande maioria desses processos conta com a disponibilidade do 'eu', em aceitar ou não.

Nos processos de repressão é natural que o 'eu' tenha aversão a o que é recalcado,
já que o recalcar é justamente o 'projetar fora', expulsar de si tudo que não se quer ver,
delegando ao inconsciente, já que não existe o "fora" psíquico.
É notório que um sujeito em que atuam muitos processos de repressão,
a proporção recalcado-eu recalcador é muito maior, implicando em aversão
a mais partes constitutivas de si mesmo. Isso resulta muitas vezes em processos de desconstrução
violentos quando não respeitados e muitas vezes a resolução final pode ser pior que a inicial
se não respeitado a própria ação do sujeito em sua trama (intervençao externa)


A resolução do que antes estava não-resolvido, agora passa a fluir,
aceitando se libera a tensão da retenção energética, é possível ter a sensação de orgasmo.
A transcendência é um grande e fascinante fenômeno, onde a integralidade pode ser tangida.
Longe de mim afirmar a compreensão do universo em si
mas definitivamente a experienciação mais direta possível entre Sujeito/Real.
Sem o intermédio de símbolos, sem o intermédio da língua, nem da linguagem.

É necessário afirmar que o pensar racional é necessariamente simbólico e linear,
Que para seu funcionar adequado, é indispensável que o 'eu' se aliene ao seu raciocínio.
Alienar-se ao simbólico significa tomar o mapa pelo território em si,
Assumir - e essa assunção é metapsíquica - que o meio pelo qual se percorrerá é legítimo,
a legitimação da linguagem que se utiliza, assim o indivíduo se aliena à linguagem de que se vale.
Como o  amante realmente crê estar expressando seu amor com um longo texto sobre seus sentimentos, mais percebe que se está afastando mais e mais de seu sentimento, posto que valendo-se da razão, alienado a esta, o sentir afetivo do amor não é possível, e é jogado pra escanteio.

O próprio Real não pode ser tangido pelo Simbólico, o que se passa sempre
É uma aproximação, uma amarração, uma metonímia, toma-se sempre o Todo pelo Nome.
Quanto mais se pensa a cerca do sentir, mais se está pensando, e menos se está sentindo,
isso se revela com majestade no Taoísmo.
Mas bem, a verdade em si não é tangido no âmbito do simbólico,
mas a relação social, que legitima o ser social, é mediada pelo simbólico.
Então a tentativa de simbolizar um Real apreendido é válida como produção de um saber,
não como saber absoluto ideal, jamais, posto que é uma expressão simbólica como qualquer outra e não é jamais a coisa em si.

Jorge Madoz